Sindicatos de trabalhadores de montadoras divergem sobre plano
Governo lança programa pró emprego que permite reduzir jornada e salário.
Entidades de duas regiões onde houve demissões se dizem favoráveis.
Do G1, em São Paulo*
Dois sindicatos de regiões onde houve demissões neste ano, o do ABC, que
negocia pelos trabalhadores de
Mercedes-Benz,
Ford e Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), e o de
Taubaté,
que tem fábricas da
Ford
e da
Volkswagen,
disseram apoiar a medida.
Outros 6, incluindo o que representa trabalhadores da
Fiat, líder em vendas no
país, em
Betim
(MG), e o de
São
Caetano do Sul (SP), onde a General Motors também demitiu, criticam a
proposta de reduzir salários para garantir empregos. Para eles, a medida
dificilmente seria aprovada em assembleias com os trabalhadores.
Como funciona
Apoiado pela associação das montadoras, a
Anfavea, o Programa
de Proteção ao Emprego (PPE) propõe diminuir em até 30% as horas de trabalho,
com redução proporcional do salário pago pelo empregador. Estima-se que, com
isso, serão preservados 50 mil empregos com salário médio de R$ 2,2 mil.
A medida é tida como alternativa aos lay-offs, que são a suspensão
temporária de contrato, por até 5 meses, quando o trabalhador faz cursos de
qualificação, recebe seguro desemprego do governo e, em alguns casos, tem uma
compensação financeira complementar das empresas, mas perde o vínculo
empregatício pelo período.
O governo ainda vai anunciar quais setores poderão aderir ao plano. Além
disso, as empresas interessadas deverão fechar acordo coletivo específico, ou
seja, ter a aprovação dos trabalhadores. O período de validade para a
utilização do programa não poderá ultrapassar 1 ano.
(O plano) Vem em boa hora"
Rafael Marques,
do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
ABC paulista
Para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que representa trabalhadores da
Mercedes-Benz, Ford e Volkswagen, entre outros, em
São
Bernardo do Campo (SP), o programa é bem vindo.
Na cidade, a
Mercedes
demitiu 660 trabalhadores neste ano e diz ainda ter 2 mil de excedente. A
Volkswagen anunciou o corte de 800, no início de 2015, voltou atrás, após a
greve dos trabalhadores, mas
continua
realizando lay-offs.
"(O plano) Vem em boa hora. É necessário dizer que, quando
reivindicamos o programa – isso foi em 2012, portanto com pleno emprego –, a
visão nossa era criar um programa que, em olhando no futuro, em episódio de crise,
pudéssemos utilizá-lo como mais um mecanismo da legislação trabalhista, que nos
dê condições de vencer momentos de dificuldade, especialmente com a
globalização”, afirmou o presidente, Rafael Marques, que participou da
cerimônia de anúncio do plano, em Brasília.
O sindicato, no entanto, sofreu recentemente a rejeição pelos trabalhadores
da Mercedes de uma proposta negociada com a montadora que previa redução de
jornada e de salários, assim como o plano do governo, em troca de estabilidade.
Estabilidade sem dinheiro no bolso não adianta nada"
Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, do Sindicato dos
Metalúrgicos de S. Caetano do Sul
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
São
Caetano do Sul, também no ABC paulista, será difícil o programa do governo
funcionar se os trabalhadores tiverem de abrir mão de algo.
"Estabilidade sem dinheiro no bolso não adianta nada. Veja o caso da
Mercedes", citou Aparecido Inácio da Silva, o Cidão.
Ele também tenta negociar, junto à General Motors, dona da marca Chevrolet,
o futuro de 819 funcionários cujo lay-off termina na próxima sexta-feira (10).
"Teve reunião hoje e não foi possível garantir a manutenção de todo
mundo", afirmou, nesta segunda.
Ainda em São Caetano, a
GM
cortou 150 funcionários em maio e mantém outro lay-off, com 620
trabalhadores, que terminará em outubro, de acordo com o sindicato.
Vale do Paraíba
O sindicato de Taubaté, onde há fábricas da Volkswagen e da Ford, disse apoiar
o plano. Em março, a
Ford
demitiu 140 operários que voltavam de lay-off. Na planta da Volkswagen na
cidade, há 370 em dois grupos com contratos suspensos temporariamente.
O sindicato de São José dos Campos (SP), que representa trabalhadores das
fábricas de General Motors e da Chery, é contra a medida. "Não se trata de
um plano de proteção, mas de precariedade do emprego. Esta redução
contraria a legislação trabalhista e infelizmente teve apoio da CUT [Central
Única dos Trabalhadores], mas, quando for apresentada em assembleia, será
rejeitada pelos trabalhadores”, criticou o diretor Luiz Carlos Prates, o
Mancha.
"É uma medida temporária, para reduzir os salários, o que não garante a
manutenção dos empregos. Esta manutenção dos empregos é fruto da resistência
dos sindicatos", completou. A GM tem
798
funcionários com contratos suspensos em São José, onde a montadora e o
sindicato travam uma queda de braço há alguns anos. Com o fechamento da linha
de automóveis, a produção local foi reduzida aos modelos S10 e Trailblazer.
Campinas
O presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Campinas e Região, Sidalino Orsi
Junior. também condenou a iniciativa do governo. Na região estão instaladas
fábrica da Toyota (Indaiatuba) e da Honda (Sumaré),
marcas
que, na contramão do setor, estão crescendo nas vendas e não realizaram
lay-off nem férias coletivas neste ano.
“Nós não vamos submeter esse tipo de assunto a nenhuma assembleia. Não
vamos negociar redução de salário em troca de uma falsa estabilidade",
afirmou. "O governo já injetou milhões nas montadoras, tirou imposto para
reduzir custos das empresas, desonerou a folha de pagamento e, agora, quando o
setor está em crise, querem que o trabalhador pague a conta? Não vamos aceitar
isso de jeito nenhum."
Não tem como reduzir o salário. Estamos atrás de São Paulo,
Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia "
João Alves,
do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, MG
Metalúrgicos da Fiat
O plano também foi criticado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Betim (MG),
representante dos operários da Fiat, que
suspendeu
a produção por 10 dias em maio, diante da baixa nas vendas.
"Nós somos contrários a este tipo de contrato. Temos o quinto pior
salário dos metalúrgicos do país e somos o segundo maior estado industrializado
do Brasil", disse o presidente João Alves. "O salário é muito baixo.
A categoria não resistiria a uma redução da carga horária, mesmo com o FAT
[Fundo de Amparo ao Trabalhador]", explicou.
O FAT será usado pelo governo para compensar parcialmente a diferença do
salário: 50% da perda, desde o montante não passe de R$ 900,84, correspondente
a 65% do valor do maior benefício do seguro-desemprego, hoje em R$ 1.385,91.
Segundo João Alves, a média salarial dos metalúrgicos na Região
Metropolitana de Belo Horizonte é de R$ 1,7 mil. "Não tem como reduzir o
salário. Estamos atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Os
trabalhadores não vão resistir", afirmou.
Outros estados
"Aqui no estado, ainda não foi discutida essa medida. No Paraná, somos
contra qualquer medida que venha a reduzir o salário. Queremos medidas que
garantam o emprego e a qualidade de vida dos trabalhadores", afirmou
Nelson Silva de Souza, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande
Curitiba, que representa empregados da Volkswagen, Volvo, Renault e Nissan.
"Vamos fazer uma reunião na terça-feira (7) para avaliar a medida. Essa
conversa começou há dois meses e parece que agora está se concretizando. A
princípio, acredito que essa mudança não vai ser muito significativa",
opinou Bartolomeu Citeli, diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos
do Sul Fluminense, de Volta Redonda, que representam os funcionários de Peugeot
Citroën, Nissan e MAN -as duas últimas têm trabalhadores em lay-off atualmente.
"Mexe com muita coisa, como os benefícios e precisamos estar atentos
para que não represente vantagem apenas para os empregadores", completou.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
Gravataí
(RS), Valcir Ascari, criticou o plano. Segundo ele, a medida prejudica os
trabalhadores da General Motors na cidade da Região Metropolitana de Porto
Alegre, que, com o desconto, terão dificuldades financeiras.
"Esse governo é tão incompetente que nesse momento prejudica o
trabalhador para pagar a própria incompetência na economia, por não fazer o que
deveria ter feito. Vejo isso com profunda tristeza. Querem nos pagar [50% da
perda] com o FAT, mas o FAT já é nosso, é dos trabalhadores, não do governo.
Entendo isso como um paliativo. O governo precisa começar a reduzir os gastos
públicos", afirmou.
Segundo Ascari, os trabalhadores da GM em Gravataí acertaram com a montadora
que ficarão em casa durante o período de dificuldades financeiras da empresa,
mas sem ter os salários descontados. Após a situação melhorar, eles voltarão a
trabalhar e pagam os dias que ficaram parados trabalhando aos sábados. O
sindicalista acredita que esta solução é mais vantajosa para os metalúrgicos
que a medida proposta pelo Planalto.
O Sindicado dos Metalúrgicos de
Catalão (GO), onde
fica a fábrica da
Mitsubishi,
e o Sindicato dos Metalúrgicos de Araquari e São Francisco do Sul, região da
fábrica da
BMW, ainda
não têm um posicionamento.
* Colaboraram G1 Campinas
e Região, G1 GO, G1 MG, G1 PR, G1 RS, G1 SC, G1 Sul do Rio e Costa Verde, G1
Vale do Paraíba